quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Juvenal

Juvenal tava desempregado há  meses. Com a resistência que só os brasileiros tem, o Juvenal foi tentar  mais um emprego em mais uma entrevista. Ao chegar no escritório, o  entrevistador lhe perguntou:
- Qual foi seu último  salário?
- "Salário mínimo", respondeu  Juvenal.
- Pois se o Sr. for contratado  ganhará 10 mil dólares por mês!
- Jura?
- Que carro o Sr. tem?
- Na verdade, agora eu só tenho um  carrinho pra vender pipoca na rua e um carrinho de  mão!
- Pois se o senhor trabalhar conosco  ganhará um Audi para você e uma BMW para sua esposa! Tudo  zero!
- Jura?
- O senhor viaja muito para o  exterior?
- O mais longe que fui foi pra  Belo  Horizonte, visitar uns parentes...
- Pois se o senhor trabalhar aqui  viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Roma, Mônaco,  Nova Iorque, etc.
- Jura?
- E lhe digo mais... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu  gerente. Mas é praticamente garantido. Se até amanhã (sexta-feira) à  meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso cancelando, pode vir trabalhar na segunda-feira.
Juvenal saiu do escritório radiante.  Agora era só esperar até a meia-noite da sexta-feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.
Sexta-feira mais feliz não poderia  haver. E Juvenal reuniu a família e contou as boas  novas. Convocou o bairro todo para uma  churrascada comemorativa a base de muita  música. Sexta de tarde já tinha um barril de  choop aberto. As 9 horas da noite a festa  fervia. A banda tocava, o povo dançava, a  bebida rolava solta. Dez horas, e a mulher de Juvenal aflita, achava tudo um exagero. A vizinha gostosa, interesseira, já  se jogava pra perto do Juvenal. E a banda  tocava! E o choop gelado  rolava! O povo  dançava! Onze horas, Juvenal já era o rei do bairro. Gastaria horrores para o bairro  encher a pança. Tudo por conta do primeiro salário. E a mulher resignada,  meio aflita, meio alegre, meio boba, meio  assustada. Onze horas e cinqüenta e cinco  minutos... Vira na esquina buzinando feito  louco uma motoca
amarela...
Era do  Correio! A festa  parou! A banda  calou! A tuba  engasgou! Um bêbado  arrotou! Uma velha  peidou! Um cachorro  uivou! E agora? Quem pagaria a conta da  festa?
- Coitado do Juvenal! - era a frase  mais ouvida.
Jogaram água na  churrasqueira! O chopp  esquentou! A mulher do Juvenal  desmaiou! A motoca  parou!
- Senhor Juvenal Batista Romano Barbieri?
- Si, si, sim, so, so, sou  eu...
A multidão não  resistiu...
-  OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!
- Telegrama para o  senhor...
Juvenal não  acreditava...
Pegou o telegrama, com os olhos  cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para  todos. Silêncio  total. Respirou fundo e abriu o  telegrama. Uma lágrima rolou, molhando o  telegrama. Olhou de novo para o povo e a  consternação era geral. Tirou o telegrama do envelope, abriu  e começou a ler. O povo em silêncio aguardava a  notícia e se perguntava.
- E agora? Quem vai pagar essa festa toda?
Juvenal recomeçou a ler, levantou os  olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava... Então, Juvenal abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a gritar eufórico...
- Mamãe morreeeeuuu !!! Mamãe Morreeeeuuu!!!